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A linguagem do cinema

Os filmes são um grande recurso do professor para apresentar ou aprofundar temas ou mesmo para trabalhar o valor e as características da linguagem cinematográfica. Confira, a seguir, o que especialistas sugerem para ajudar você a usá-lo em sala da melhor forma.


​Planejamento garante o sucesso da aula

Os filmes jamais podem ser encarados como uma distração ou uma forma de preencher o tempo e, assim como qualquer atividade proposta em sala, as que envolvem o cinema só dão certo se forem bem preparadas (Leia o quadro Como Escolher o Filme). “É preciso assistir ao filme antes de apresentá-lo para conhecer a obra e estabelecer critérios para o plano de aula”, diz José Miguel Lopes, professor da Universidade Estadual de Minas Gerais e coautor de A Escola Vai ao Cinema. Na proposta devem constar o conceito a ser discutido, os objetivos, a metodologia e os critérios de avaliação, como a participação dos alunos no debate sobre o filme visto e a relação que eles fazem entre ele e o conteúdo trabalhado. Inicie o trabalho apresentando o planejamento aos alunos, assim como a sinopse da obra e um roteiro para a discussão. Um breve comentário sobre o que será visto também é sempre bem-vindo (leia o quadro Como Planejar a Exibição). Isso é importante para que a garotada entenda o contexto de produção. “Até um documentário é feito de escolhas de quem o produz. O audiovisual é uma linguagem muito forte e pode ser interpretada como uma verdade absoluta. Nem mesmo os livros podem ser olhados como uma fonte inquestionável e cabe ao professor explicar isso”, alerta Lopes. É necessário ter cautela, por exemplo, para usar produções históricas como uma forma de mostrar como era a vida em determinada época. “Elas trazem um olhar sobre aquele momento e muitas vezes a criança fica com a ideia de que tudo ocorreu exatamente daquele jeito”, aponta Claudia. Para fazer esse trabalho de forma mais consistente, é importante o estudo sobre o cinema. “O educador precisa ter um conhecimento básico da linguagem cinematográfica, um domínio mínimo da sua gramática. Isso vai ajudá-lo a fazer uma análise do filme e orientar a garotada”, afirma Lopes. Não é necessário fazer nenhum curso. “Além de livros sobre a área, é possível consultar sites de introdução ao cinema” (leia o quadro Quer Saber Mais?). Ter um bom repertório de filmes também contribui para propor uma boa aula. Além de uma base sobre a linguagem, conhecer o trabalho dos diretores cinematográficos e do contexto das obras é essencial para selecionar bons filmes.

 

 

 

 

 

Linguagem Audiovisual

O cinema como um aliado

Agora, nossa conversa sobre Linguagem Audiovisual será sobre os principais elementos da linguagem cinematográfica, que se revelam e se escondem nas narrativas que cada filme, a seu gosto e a seu modo. “Apreender o que os filmes dizem e o que cada espectador, ao ver o filme, quer dizer, talvez seja a experiência educativa mais profunda que o cinema possa proporcionar. Cinema pode ensinar, para muito além do conteúdo que os filmes parecem apresentar à primeira vista. Ir ao cinema, ver filmes em vídeo ou na tevê são ações que se confundem em um mesmo processo de fazer emergir
pressentimentos e atribuir sentidos ao que se desenrola nas telas, em
linguagem feita de imagens e sons. São as imagens e os sons que primeiro se apresentam, mas a linguagem audiovisual, movimento, cor, é composta de muitos elementos e muitas nuanças, sintetizados em uma narrativa. Os elementos que compõem o cinema estão, desde há muito, partilhando da vida de todos os que habitam este planeta girante. Assim, ver filmes, mesmo aqueles mais banais, pode ser uma experiência profundamente humana.”
(COUTINHO, 2005). Para que possamos escrever um texto é necessário q
ue conheçamos a gramática da Língua Portuguesa. O mesmo acontece para filmar. No lugar de palavras, há planos, mas a noção de ritmo é a mesma. Os planos de um filme podem ser curtos ou longos, assim como as frases de um livro.

André Setaro -  De Salvador (BA)

A maioria das pessoas que vai ao cinema recebe uma avalanche de imagens e não se encontra apta a identificá-la enquanto uma linguagem. O que interessa, apenas, é a história, a intriga, o desdobramento das situações - aquilo que se chama de "fábula". Assim, o espectador comum não percebe que o filme tem uma narrativa e é esta que, por assim dizer, "puxa" a fábula - isto é: a história. Por narrativa se entende a maneira pela qual o realizador cinematográfico manipula os elementos da linguagem fílmica. Ou seja: o conjunto das modalidades de língua e de estilo que caracterizam o discurso cinematográfico.
O que precisa ficar bem entendido é o seguinte: o que merece crédito na obra cinematográfica não é o que se "diz" no filme, mas, sim, "como"o filme diz. E este se expressa por meio de sua linguagem específica, assim como na literatura o escritor se expressa por um conjunto de palavras que formam frases, orações e períodos. A expressão daquele que escreve se dá através da sintaxe. E o cinema também tem uma sintaxe que se cristaliza pelo relacionamento dos planos, das cenas, das seqüências. Assim, os elementos básicos da linguagem cinematográfica, os chamados elementos determinantes, podem ser assim considerados: a planificação (os diversos tipos de planos - geral, de conjunto, americano, médio, "close up"...), os movimentos de câmera ("travelling", panorâmica, na mão...) e a angulação ("plongée", "contre-plongée"...). E a montagem, existindo também os elementos componentes, mas não determinantes (fotografia, intérpretes, cenografia...).
É necessário, para uma melhor compreensão de um filme, aprender a reconhecer a linguagem do cinema e a captar qualquer mínima manifestação sua. Importa mais estar atento ao comportamento que a câmera adota em relação a determinado personagem do que seguir o seu comportamento na tela. É mais importante a verificação dos sinais efetuados pela câmera referente ao personagem do que tentar entender o que este está a fazer no desenvolvimento da história. A câmera dificilmente renuncia a uma opinião sua, mesmo quando parece estar silenciosa e perfeitamente alheada. Os modos que dispõe para "qualificar" a realidade são múltiplos e nem sempre imediatamente compreensíveis. Para se ter uma obra recente como ilustração: em "Inimigos públicos", de Michael Mann, o que importante mais é a "mise-en-scène", a "maneira" pela qual este realizador conta a sua história, o modo de apresentá-la por meio da sintaxe cinematográfica.

CINEMA

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